terça-feira, 17 de junho de 2008

UM TEXTO BACANINHA, COMO DIRIA A GRÁCIA.

Vó caiu na piscina
Carlos Drummond de Andrade


Noite na casa da serra, a luz apagou. Entra o garoto:
__ Pai, vó caiu na piscina.
__Tudo bem, filho.
O garoto insiste:
__Escutou o que eu falei, pai?
__Escutei, e daí? Tudo bem.
__Cê não vai lá?
__Não estou com vontade de cair na piscina.
__Mas ela ta lá...
__Eu sei, você já me contou. Agora deixe seu pai fumar um cigarrinho descansado.
__Tá escuro, pai.
__Assim até é melhor. Eu gosto de fumar no escuro. Daqui a pouco a luz volta. Se não voltar, dá no mesmo. Pede a sua mãe pra acender a vela na sala. Eu fico aqui mesmo, sossegado.
__Pai...
__Meu filho, vá dormir. É melhor você deitar logo. Amanhã cedinho a gente volta pro Rio, e você custa muito a acordar. Não quero atrasar a descida por sua causa.
__Vó ta com uma vela.
__Pois então? Tudo bem. Depois ela ascende.
__Já ta acesa.
__Se está acesa, não tem problema. Quando ela sair da piscina, pega a vela e volta direitinho pra casa. Não vai errar o caminho, a distância é pequena, e você sabe muito bem que sua avó não precisa de guia.
__Por que ce não acredita no que eu digo?
__Como não acredito? Acredito sim.
__Cê não tá acreditando.
__Você falou que a sua avó caiu na piscina, eu acreditei e disse. Que é que você queria que eu dissesse?
__Não, pai, ce não acreditou ni mim.
__Ah, você está me enchendo. Vamos acabar com isso. Eu acreditei, viu? Estou te dizendo que acreditei.
Quantas vezes você quer que eu diga isso? Ou você acha que estou dizendo que acreditei mas estou mentindo? Fique sabendo que seu pai não gosta de mentir.
__Não te chamei de mentiroso.
__Não chamou, mas está duvidando de mim. Bem, não vamos discutir por causa de uma bobagem. Sua avó caiu na piscina, e daí? É direito dela. Não tem nada de extraordinário cair na piscina. Eu só não caio porque estou meio refriado.
__Ô, pai, ce é de morte!
O garoto sai desolado. Aquele velho não compreende mesmo nada. Daí a pouco chega a mãe:
__Eduardo, está escuro que nem breu, sua mãe tropeçou, escorregou e foi parar dentro da piscina, ouviu? Está com a vela acesa na mão, pedindo que tirem ela de lá, Eduardo! Não pode sair sozinha, está com a roupa encharcada, pesando muito, e se você não for depressa ela vai ter uma coisa! Ela morre, Eduardo!
__Como? Por que aquele diabo não me disse isto? Ele falou apenas que ela tinha caído na piscina, não explicou que ela tinha tropeçado, escorregado e caído!
Saiu correndo, nem esperou a vela, tropeçou, quase que ia parar também dentro d’água:
__Mamãe, me desculpe! O menino não me disse nada direito. Falou só que a senhora caiu na piscina. Eu pensei que a senhora estava se banhando.
__Está bem, Eduardo – disse dona Marieta, safando-se da água pela mão do filho, e sempre empunhando a vela que conseguira manter acesa. – Mas de outra vez você vai prestar mais atenção no sentido dos verbos, ouviu? Nelsinho falou direito, você é que teve um acesso de burrice, meu filho!
ALÉM DESSE TEXTO SER MARAVILHOSO, ME FAZ RECORDAR AS AULAS DE LÍNGUA PORTUGUESA NO SEMESTRE PASSADO. AÍ, QUE SAUDADE!!!
NÃO SE ESQUECENDO DA MINHA QUERIDA AMIGA LARISSA QUE LEU ESTE TEXTO BACANINHA NA AULA.
EDLENE

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